O que queres de mim pai ausente se sofrido me fez, sem teu afago e teu colo? Onde ecoa
teu brado, lá eu choro! Sou o teu pranto, teu filho abandonado às
margens de tuas águas vermelhas. Se o penhor desta igualdade nos torna
filhos iguais, onde estará o nosso lugar em teu seio? Conquistara-se
com nosso braço forte a tua liberdade. Onde estará a nossa parte neste quinhão?
Penhorou-se? Minha vida por ti! Onde receber o justo pago devido a mim? No
Ipiranga, a busca pelo plácido se deu, porém, aquelas águas continuam
vermelhas pelo teu desdouro. O que queres de mim pátria amada?! Se te adoramos e clamamos
em brado forte, onde ainda repousa os nossos sonhos: Ali, tu foste gerado
e, ali mesmo, tu morreste, por ter-me esquecido às tuas margens. O
que fazer se depois deixou-me perecer em teu rio de sangue? E a esperança
de um dia poder alcançar o real desejo em ti? Do povo, o maior anseio!
Perderam-se os raios brilhantes e o nosso amanhã sombreou-se. Sempre
estará o nosso céu enegrecido? E nossas almas, quando se
alegrarão mais uma vez em um belo e esplendoroso porvir?! Qual seria o meu legado diante do
gigante que se diz: pai gentil? Sozinho ou morto em teu berço esplêndido? Foste
tragado pelo negro e abandonou-me no leito do teu rio de liberdade. O
filho varonil e sem medo não acolhe e, manténs-me, em segredo, em teu grito de
liberdade ou morte!
Brasil! O que nos pariu, senão a barriga de todo o descaso? Vidas
dormentes e brincadeiras leves, serão o nosso único refúgio. Ah, mãe! Essa nos
deu o berço de seu interno amparo, enquanto, as nuvens, nos moldavam fábulas singelas acima desse solo de pai,
falso varonil, onde seus dragões, vomitam seus fogos de lama vermelha e nos
afogam em sonhos sufocados e inertes.
Obras de Candido Portinari.
Mariana e Brumadinho, por vocês eu choro.