Lá da janela pode-se ver chovendo, torrentes de pingos d’água. Pode-se ver, a maravilha desencadeada e quando batem no chão viram flor. Pode-se ver as pernas da menina enlameadas e no rosto um sorriso emanando todo frescor. Sua saia desfigurada, toda colorida rodopiava em uma dança de chuva que à alma toda lavava. Trazia no corpo as ondas que tudo sambava e o tempo todo, tudo à sua volta de alegria pulava. Os pingos formavam as enxurradas e seu corpo moreno tinham as mechas descabeladas que serpenteavam, todas molhadas. Morena do campo, desabrochando feito flor. Pela janela sinto o vento! Vi correndo, a mulata assanhada e seus quadris de sambar rebolavam trazendo ao meu peito um bater de tambor. E a inocência desequilibrada ofegava, de tanto que saltitava o meu peito que precisava se conter de tanto ansiar o corpo molhado e o seu acanelado odor. Querendo sambar, suas saias abriram-se num descortinar de cortinas deixando à mostra todo aquele céu das meninas. Milhões de orvalhos chamando sem parar! De tanto que meus olhos olharam essa maravilha vejo a pura Inocência quase tímida, a brilhar! E da janela vou vivendo aquarelas de visões. Ela vem toda suada, toda misturada com aquela chuva trazendo um sambar dos furacões. Saio lá fora e vou correndo para abraçar a deusa molhada, com suas saias desfiguradas. Que coisa linda essa rainha das sensações! Agora sem timidez, toda assanhada rodopiava e, me abraçando desarmava meus já descasados botões.
By betonicou
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Arte: R.Paschoal