Ouço
tua voz, esse teu som rouco e sedutor. Vejo esse teu jeito cético de fazer
amor. Essa tua boca tem perfume, te beijar era costume, mas em teu jardim um
tanto árido não pude descansar.
Fazes
da vida o que bem queres, e outro amas, e fazes o pouco que podes. Revirando a
mesa trazes à tona a tristeza. Fazes da minha voz interior uma incerteza. Ouço
a canção da despedida, e toda a lucidez foi diluída. Essa paixão é a mais
sofrida, porém o amor cura aquela dor tão ressentida, e o desejo tolo se calou.
Vejo
o teu corpo andar pela minha rua, e não sinto a essência; talvez, disso estejas
nua. Essa tua boca perdeu o perfume de vez, e pode até ser coisa de ciúme, e eu
não quero mais gostar. Da tua boca perdi o costume, mas sempre o coração não
sabe como se aquietar. Fez bater forte para eu dançar de novo. Os teus olhos, é
o que procuro, para ver se há céu para poder sonhar. Essa ilusão toda
vergonhosa, sofrida e desmerecida faz querer retornar para a vida, antes
sossegada e tão divertida; bem antes da boca mais linda e sedutora, que o meu
beijo jamais beijou.