
I
“Agitação”
Tempestades, tempestades!
Quero chuvas serenas, feitas
de orvalhos para os brotos
das sementes, para os frutos
das plantações, e jardins de
floris serenados.
Chuvas são feitas de canções
respingadas, feitas de nuvens
genitoras, emprenhadas de
ares invernados.
Tempestades são pedras frias
e diluídas. São orações rejeitadas,
que caem pesadas. Asas frágeis de
papel escrito, carregado de versos
desesperados.
É gelo que se eleva e cai em
choradas águas cadentes, pingos
de brotos aquosos, lágrimas de
dores vertentes.
Tempestades são choros de
destemperos, choro de corvos,
a cantar chuvas rebeldes e frias.
Assim: tenho gosto pelo cair das
folhas abatidas.
Gosto do outono, da poesia
vermelha e pousada diante
do debruçar pelas janelas.
Das cores murchas e desapegadas,
desta estação emancipada.
Livre, a despencar-se, solta.
Porém, não distante, de todas
as outras cores das telas de
aguarelas.
I I
“simplista”
“Sim, sim, sim, sim”, é eco
teimoso, sons insistentes, lá
dos “dezessete” ... hoje ausentes.
Vozes musicadas, ressonantes
nas notas de lembranças.
Para o meu sempre. Na
alma, nunca destoantes.
Hoje, sinto falta de mim mesmo,
dos cânticos singelos e maternos.
Das canções de gorjeios, dos seres
que, por entre as folhas das
árvores, eu não vi.
Porém, de ouvidos aguçados,
ouvia atento aos assobiantes,
às vezes, de um solitário ser
voante: silvos, de um
transmigrante, em passarinho
bem-te-vi.
III
“O Céu do deserto”
Em cada ser há plantações não
vingadas. Vejo-me espantado,
a ser espantalho, a espalhar
fugitivos pássaros de espigas quase
mirradas.
Os ventos são quentes, vindos de
um sul, inquisidor, em contrários
calafrios.
O poço que há mim serve de leito,
também, serve de alento, pois era
aos olhos, circular janela para o céu,
onde mora a esperança quente e as
confortáveis e refrescantes brisas
das coisas mais singelas.
Desmembrou-se de mim asas tênues,
pois, eram, rendas de ventos, a
elevar-me em sonhos de cenas surreais.
Despencado, cai dos céus. Em terra,
orei em preces aleijadas, pois eram
preces de pás quebradas de moinhos.
Eu era um ser nascido em inerente
mundo, nascido em brisa solitária de
desertos terrenos, à procura de um
oásis por
entre dunas que encerravam olhares,
tão marcantes e, serenos.
IV
“Éden”
A desconfiança abraçou a
esperança, como herança,
pelas margaridas que acenavam
em braços brancos e, girassóis,
que prometiam sois cambaleantes,
à mercê de forças que embalavam
suas enterradas vontades.
Pois são os girassóis: lindas
prisões de fragmentos quentes
de ternura. Serafins, voluntários
a uma plantação de dourados
acenos de possibilidades.
“O que seria dos campos plantados
sem a transmigração de anjos
em sementes?!”
V
“Quimérico”
Os céus acariciam a terra,
fazendo eriçar os verdes caules
de seus filhos.
Vejo-me descansando em lama,
feito barro, sendo moldado em
jarro para águas diáfanas.
Espero por chuvas de pingos
acariciantes, pois é a alma
quem os receberá como recipiente
de respingos que, dantes,
acolhia lágrimas em odres....
Vejo-me passarinho cantante,
sempre pego, iludido por
gaiolas douradas.
“Os gaviões sempre constroem prisões
usando seus próprios ossos. “
VI
“Conversa de vento”
Era menino, que no início,
era “marco”.
Sem enganos: não era nome,
e sim, um tempo que demarcava
o prelúdio entre novas manhãs.
Debrucei-me em arcos.
Esses mesmos arcos que se colorem,
mesclando água e sol.
Não havia tesouros, pois eram
histórias, contadas por
imaginações medíocres, feitas
de vento misturado com vento.
Doravante, eram ilusórias,
visões insignificantes às orbitas
de minhas Iris. Tesouros?
São luzes que se alcançam,
mesmo que intermitentes,
como o brilhar tímido, porém,
brilhante de ternura dos
pirilampos.
Me pego divagando, olhando
pelas janelas.
“Pelas janelas, o debruçar
inocente e despropositado,
sempre encontra propósito,
ao iniciar divagante,
uma conversa com Deus
sobre a vida.”
VII
“marco”
Numa tarde. Um meio
tempo, feito de sol e lua.
Betonicou©
Arte-by Marina Terauds
Responderei se for preciso.
"Imaginante proseador migrante" é um poema que resolvi fragmentar em seis partes. Escrito numa tarde , num certo momento....Boa leitura!