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quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Farol © Copyright



Os anjos visitaram a terra e, as estrelas, brilharam em nossos olhos com a felicidade. A esperança pousou, feito corpo de inocência, a nos presentear com o futuro da vida. Nasceriam flores, onde os pés santos tocariam apenas com a leveza de sua sombra. Assim surgiu e foi mostrada a esperança para o mundo, anunciada pelo cometa que passeava, exuberante de alegria, sobre a esplendente luz veneranda e celeste. Eram os joelhos levados ao solo naquele ato de reverenciar a paz que nasceu e fora acomodada no rústico da humildade. Os passarinhos cantavam em coro com as cornetas que anunciavam do céu sagrado. Os vaga-lumes iluminavam a cena inusitada, num cintilar de pequenas e voantes estrelas terrestres. Dançavam as estrelas, num sublime ato de pulsar delicado as suas luzes, perante o brilhar que pousou sossegado do ventre de fragilidade. Às ovelhas, que antes eram pastores, foram dadas o presenciar do milagre original, pousado sobre o solo de seus pastos, conforme os reis, agora súditos, lhe traziam os presentes que suas almas cultivaram e fizeram brotar de seus sábios e receptivos corações. Mãe e Pai festejavam em rojões de explosões de ternuras; alegravam-se, à medida em que o sorriso singelo lhes tocava a face da alma. Assim nascia a paz, que era brisa compadecida, a refrigerar todo o calor do abandono. Assim nascia, a perspectiva para o sossegar, feito facho de brilho, resplandecente, a nos indicar o caminho para fora da solidão esquecida numa sala escura do universo.

 By betonicou
Arte :J. Kirk Richards
 A todos os amigos e companheiros desejo um feliz natal!  Nesse realizei um sonho: o de escrever sobre o nascimento de Jesus. A Deus toda a glória! 

domingo, 15 de dezembro de 2019

Valsa da inocência © Copyright

Quero brincar de roda, num bailar frenético, dançar incerto ou certo pelas estradas, trilhas e afins.

Quero cantar ao ar, nesse mar de luzes, pela madrugada, frio asfalto, terra ou nas calçadas, longe das amarras que são tão ruins.

Andar num valsar atempo, num findar de tempo, me envolvendo alegre, ou tolo; eu só queria assim.

Quero dançar amar, Como mar me envolvendo aos poucos, sob o luar a céu aberto que abençoa sobre mim.

Quero essa alegria reprimida, dançar aos poucos, juntos às folhas, num valsar ao vento.

Quero dançarina proclamada, escrita em versos; ah, dançar num todo e alegre tempo!

Quero a liberdade aclamada, uma alegria jorrada de sentimento, uma paz anunciada, estampada no findar do dia.

Um valsar de pressentimentos leves, para um amanhã de conforto. Uma brisa a trazer no rosto a alegria de uma paz que se repetia.

Dançar teimoso é rodopiar ciranda; tal qual criança alegre que nunca se ressentia.



Betonicou©

Arte:by - Émili  Coué

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Aurora © Copyright





  

—Terra, doce terra dos diáfanos rios!
—Voejou minha inocência em asas brancas de coruja, para ser sábio de pureza pousada no mar, também deitado em furiosas ondas impertinentes sobre o teu seio desgastado da paz e da beleza ansiada pelo meu espírito soprado para um ventre de dourados portões. Pasmo, gritei e chorei dependurado enquanto o sorriso se abria soprando o vento materno aos meus sentidos carentes de juízos.  Oh terra, dos doces e imarcescíveis abraços do ninho que se desfez ante os implacáveis ventos do tempo!  As tempestades sopraram seus acordes, num musicar rude, conforme a vida passeava como brisa tênue, feitas de moinhos de vento. Tão ingênua, delicada e ao mesmo tempo forte, é a vida, a vivenciar anjos e dragões; experientes e envolventes sopradores, além de exímios navegantes do ar. Eu limitado sob pernas trêmulas, apenas avanço, num cansaço de vida inalando o perfume e a contemplar a beleza das flores singelas, enquanto eles os voantes plantavam suas sementes nos frondosos campos de girassóis. Não haveria de lhes faltar farol, ou apenas seria aquele ato, uma suposta tentativa de nos presentear ou tentar com a inveja, ou de nos confortar com um campo de acenos alaranjados e celestes.  Ah terra, que tem meus pés como açoites, porém mais leves que os raios com seus gritos trovejantes a lhe ensurdecer e a mim, com gritantes conflitos! Sobre ti saciava minha fome de suas delicias, porém o mar de agruras envolveu-me de vermelhos e lamacentos lençóis.  Sou a vida que caminha injustiçada numa antes florada primavera. O inverno chegou distribuindo corações de gelo, e o fogo se fez tomador do presente e esse acenava em cinzas minhas belas e singelas lembranças. As nuvens se enegreceram em suas alvas e gasosas inocências e o céu de safira se fez carvão ante os dedos da ambição que lhe tateou e atravessou tocando e encobrindo o cintilar de suas estrelas. Minha humanidade divaga desajustada entre os sonhos e pesadelos, porém são os pássaros quem me emprestam seus gravetados ninhos e asas multicores para meu conforto de sono. Quisera eu, em minha delicada humanidade ter as asas dos seres voantes, para voltar ao ninho celestial do meu espirito viajante.

—Indagações e divagações! Surgia a vida da água morna onde os pequenos riachos em volta eram vermelhos feitos cor de uma rosa e o ar impregnado de jasmins. Ouvia-se o batuque de tambor. Imaginava-se eu, já naquele dilúculo tempo, um ser esperado com o fragor da ansiedade. Eram borboletas felizes aqueles olhos a chorar casulos brilhantes o surgir de minha luz. Era mãe, uma docilidade de beija-flor, a acolher-me em sua confortável ternura. Havia se passado os dias, pois criança mede o tempo em instantes de brincadeiras e o tempo maduro chamou seus serviçais para colherem o fruto que teimava em permanecer no verde dos figos. Assim foram surgindo as questões sobre a alegria singela, que fora enclausurada e presa em grilhões de responsabilidades. Vez ou outra fugia, para brincar uma inocência teimosa, pois criança não morre; fica presa numa gaiola de eternos  passarinhos.  
 By betonicou

Arte: Marina Czajkowska -Now Ru

Texto escrito especialmente para a antologia poética " Humanidade, a ser publicada em abril de 2020 pela: ACADEMIA DE LETRAS DE SANTA LUZIA (ALUZ)

domingo, 27 de outubro de 2019

Acanhados © Copyright


Se serenasse na primavera de um amor e cantasse como ondas que anunciassem o mar ilustrar-se-ia o cenário, como quem pinta o céu, ante a luz que lhe apontasse para aportar. Se desenhasse o farol que acenasse ondas amenas num porto de calmarias: visualizar-se-ia terra fértil para brotos de ternas alegrias.

Caso, ali a flor brotasse e se esvoaçasse, feita pétalas de beija-flor, em qualquer lugar que ali plantasse: germinar-se-ia em broto, feita flor, polinizada amante, rosa decorosa que se faria corada; quem diria! Seria luz brilhante, rubro diamante, menina flor que ali brotou. Seria graça de sagradas pétalas de romaria.

Brincar-se-ia uma guerra de lençóis de brisa, onde o amor sopraria asas de um respirar frenético. Teria pele feito cobertor e, o suor, orvalho de um amor não cético. Orvalhar-se-iam numa alegria ousada de cabaré! Seriam amantes: jardineiro e flor; flutuantes ondas eriçadas, trazidas ternuras de uma maré.

  By betonicou

Arte: Peter Mitchef

domingo, 13 de outubro de 2019

Horizonte na catedral © Copyright



Lá daquela porta eu pude sentir, entre os acenos mórbidos de um final tão trágico. Entre as flores mortas, eu vi um broto válido e, entre um cair tão sórdido, me vi, num chão não sólido e, entre risos loucos, me vi, num espaço de fluir. Sensações, não materiais! Tão longe de tudo e, tão livre, das coisas vãs e acidentais! Uma janela para um mundo fantástico. Uma porta para um mundo calmo e plácido. Pipas no ar e um coração não gélido; é tudo que sonhei, nesse meu tempo de pensar e refletir. Sou passageiro, às vezes, ocasional . Sou navegante das gerais. Tenho as montanhas como berço sólido. Tenho este horizonte, que me dá o berço plácido, e tenho as manhãs, calmas, tão dominicais;  tão perto de tudo, das coisas tão naturais. Tenho a lembrança de um amor que voou tão pássaro; uma flor, que brotou neste chão, antes árido. Tenho esse vento calmo, que é o meu sinal e, o meu jeito de existir. Novo horizonte das manhãs! Uma vida nova tem lá os seus mistérios. Todos os mistérios tem suas causas lógicas! Eu quero apenas o ar puro, longe das coisas sádicas. As músicas das esquinas eu  quero  poder ouvir. Quero apenas o santo ar da catedral.  Na sala da "José" um espaço de dormir.

By betonicou

Arte: David Hale- Luciana Pupo
Nota: Aqui faço uma pequena e carinhosa alusão à igreja São José; localizada no centro de Belo Horizonte . Minha cidade natal é cercada pelas imponentes montanhas das Gerais. (tomara  que continuem....)

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Desalento© Copyright



As rosas choravam suas pétalas imersas na escuridão. Os ventos sopravam acordes baixos ante o peso da amargura. Havia lírios a enfeitar as bordas dos riachos e as vidas caminhavam pelas trilhas da terra; como pirilampos acesos de almas. O mar veio vermelho sobre os desavisados e inocentes; apenas eram levados como folhas desgarradas de um precipitado outono. Era o silêncio a lhes afogar em lama de ferro conforme a vida lhes emergiam; eram soprados para uma brusca liberdade. As nuvens não choraram suas lágrimas comoventes, pois era o sol a iluminar os guerreiros e salvadores caminhantes. A esperança sofria de seus choros empáticos, à medida que escavavam pela primavera de flores. Ainda há ventos tristes e cabisbaixos, a chorar melancólicos de dores. (Mariana e Brumadinho; dores inesquecíveis!)


by betonicou ( sugerido pela querida Majo)
Arte: Nicoletta Tomas Caravia
Obs: A grande fortuna da vale compra os olhares  da justiça brasileira; uma lástima .

domingo, 25 de agosto de 2019

Aspas memoriais. © Copyright

São as marcas das cenas dos sorrisos graciosos que do rosto se esboça sem dor. São estrelas pequenas com raios dourados que essa vida nos marca de amor. São os olhos, os sois de poemas, a irradiar aspas singelas, que da alma é luz. São espelhos pequenos, emoldurados de sinais, que o tempo esculpiu e reluz. É instante presente do dia a dia, que nesse tempo pelas aspas traduz. Que sorriso diferente da boca da gente e que coroa graciosa nos olhos que no tempo se fez! Que graça gostosa, tão decorosos, são esses sinais que são dessa vez. É a graça do rosto emoldurado em sorrisos e olhares de versos realçados; sinais marcantes de linda poesia. São aspas essas ranhuras gravadas, como asas a nos voejar na singela nostalgia. São raios de sol que ao devido tempo é ocasional. São as marcas, essas rugas de aspas, a guardar dentro, o que é todo especial e memorial. 
By betonicou  
Texto encomendado por Cátiaho do lindo Blogue: Espelhando e espalhando amigos. Dedico com carinho a essa querida amiga .

terça-feira, 23 de julho de 2019

Queda e paraíso © Copyright




Era de mato o tapete e a cama, a descansar-me sob a lua. Era de beijo a boca calada, sem voz, pois não havia espaço nem desejo de falar onde a ternura pousou silenciosa. A noite gritou em grilos falantes, arruaceiros a silenciar de barulhos inocentes a minha prece. A manhã chegou, apenas com a voz rouca de galo a cantar desafinado, mas bonito. O sol chegou devagar, lá no outro horizonte, a olhar pelas frestas, por detrás da floresta de picos erguidos, como agulhas cinzas de torturas sobre a montanha encoberta de esquecimentos; que era um jeito de ser triste por detrás de uma falsa e ilusória alegria. Não havia cheiro de mato chovido pelo orvalho e, sim, o asfáltico perfume de flores murchas, mortas, pois nem chegaram a nascer. Havia até um certo deslumbrar pelas estrelas que, pálidas, cintilavam tímidas num céu escuro e tomado por uma teimosa névoa de civilidade, enquanto num canto acanhado da terra, brincava-se simples, de horizontes dourados e gotículas cruas e ingênuas, sobre o mato para pés descalços e salvos da tola e fragilizada polidez.  

Betonicou©
Membro da academia de letras de Santa Luzia ( Aluz) ocupando a cadeira Manoel de Barros. "A Deus toda a gloria!" Até aqui o Senhor me tem guiado. 
Arte: Laurel Burch 

quarta-feira, 26 de junho de 2019

Sublime© Copyright


Não são falas de dores, são apenas falas levadas pelo ofegar. Se o coração amolece quando o amor lhe é cantado, tudo estremece; seja ar, terra, fogo ou mar. Quando o peito esmorece pela triste paixão que é fugaz, o rio estremece de seus transbordantes despejos e as enxurradas alagam no vermelho barroso de enciumar.

Sentimento, que até o emudecido proclama em agigantadas falas. Guardado em lugar inefável, em um coração por ele todo afagado e diluído. É dilúvio de águas claras, num jorrar de diáfanos desejos. É porta para um jardim singelo, sem as ervas daninhas nascidas dos danosos e lúbricos ensejos.

Não há vento que não se alegre em tocar em brisas mansas esse amor que é flor sem par. Sentir esse mesmo vento que abusado acaricia a pele debaixo de todos nós; andantes varais, abaixo desse amor que é sublime luminar. Não há fogo que mais aqueça a casca morna, em arrepiados e gélidos efeitos. É esse ato tão perene e sereno de amar.

Sim, é o amor, a flor dourada plantada aqui na terra dos mortais. Fiel artífice e provedor das órbitas cintilantes, tal qual o brilhar das estrelas. É lua morna e branco lençol sobre os corpos que, sufocados, ardentes se enrolam no mel refinado em prazer inaudito. Esse amor que enobrece as causas nulas. Doce palavra, que de tanto falar se cala, ante o coração que se acelera em tambores de guerra; indo de encontro a quem tanto ao peito almeja.



Betonicou©



 Arte: Albena Vatcheva


quarta-feira, 5 de junho de 2019

Apenas janelas © Copyright


Vejo um final pelas janelas. Vejo as flores de uma aquarela prestes a cair. Vejo o sol da primavera acenando para um outono que, está por perto, está por vir.  Vejo o aceno das cores vermelhas, num início de tarde, após as aquareladas irmãs, num jardim florido de saudade. Vejo a luz, como a luz de velas. Esse é o retorno ao meu juízo final. Não há sol após a primavera, nem outono: há apenas minha era de um tempo todo glacial. Porém, ainda vejo à luz de velas, pelas fechadas janelas das manhãs. Ainda sonho o mar com suas naus de velas, levando minhas lembranças velhas, nas ondas de memorias tão anciãs. E vejo o sol, reduzido, à uma tênue luz singela, trazendo uma tarde. Vejo a despedida em nuvens vermelhas, que de tão belo eu faço alarde. Ainda tem noite de lua, no final da estação de cores, suaves, quentes e belas. Vejo lá no horizonte, raios de sol, surgindo por entre as nuvens, que são mar, avançando feito caravelas. Percebo que: quem se despenca, são sementes, plantadas para as coisas mais singelas.   Vejo ainda pelas janelas, tantas coisas que são belas: um sol com vento, uma tarde, um enluarado beijo, acanhado, nos singelos bancos de capelas.

Betonicou©



Arte: Anna Silivonchik


domingo, 19 de maio de 2019

Minha mãe mulata.© Copyright


Candura, beleza, ternura!  Onde estás minha mãe?! Beleza pura, suave e morena, que falta me faz! Herança ébano da mãe África!  Flor de maracujá do Brasil. Beleza marrom. Mistura de orquídea negra, cravo, margarida e jasmim. Tua voz e teu riso, que falta tu fazes em mim! Ainda hoje me lembro da canção de ninar. Tua terna voz constante a chamar: Filho, filho, onde estás? E eu, teu rebento correndo ao encontro da voz familiar, quando suspenso em teus braços tendo meu rosto beijado vou ao teu rosto beijar. Sou tua raça forte! Mistura da magia de terras irmãs. Teu sangue negro, mulato, índio da terra brasis pulsa em mim, em rios vermelhos carmins. Morena mulata, mulata morena. Mãe linda, suave, serena. Teu cheiro ainda me lembra um doce aroma, gostoso dos mais puros jardins. Ainda ouço a terna voz a chamar-me de filho e eu, de chamá-la de mãe. Teu carinho e eu manhoso, no teu rosto, meu rosto roçar. A leveza do teu beijo, o meu beijo no teu rosto colar.  Ai! -Que falta tu fazes, minha negra branca, dos sóis girassóis. Cá está teu filho! Quero vós; colo e afago.  Teu amor era sublime amparo. Rever teu rosto, ternura, mimo, era minha proteção do medo. Quero retorno da felicidade que nesta altura é meu maior desejo. O que restou, senão minha plena saudade!  Do teu chamego! Teu dengo! Da joia incrustada entre teus lábios! Teu sorriso brilhante, em moldura rubi! Do teu brilho dourado e sempre fora assim que te vi. Ouvir teu chamar e revê-la, mais uma vez. Olhar teu olhar, com orgulho e teu rosto vislumbrar. Minha linda mãe morena mulata! No reencontro, juntos tornar a sorrir. Mãe e filho, filho e mãe no eterno jardim! Eu sou de você e você é de mim.


by betonicou


Arte: Di Cavalcante-Cândido Portinare





quinta-feira, 2 de maio de 2019

Renascimento © Copyright


 Derramar tão cedo com flores prestes a nascer é entregar a vida a um começo.  Espelhar a vida, com o sol despontando no amanhecer e, os amarelos canários e pardos pardais, anunciando, é como uma prece daquela calma e, as brisas, são carinhos que tocam toda a alma.  Se derramar tão cedo é como uma oração ao renascer e enxergar a vida a cada começo. Ver chegando o sol todo brilhando é a vida da alma. Se for chuva, é o mar de cima acariciando e fazendo de tudo que tão bem conheço. E todos esses jeitos são notas de uma canção e, quando chegam à noite, tudo transforma-se de novo em oração. E tornar a dormir, como num ventre prestes a renascer, é tornar a ver o recomeço! São as cortinas dessa vida! É singela cantiga, leve, poesia tão bem definida!   Se derramar de novo e acordar o que vem nascer: são as puras mães anunciando!  Cada renascer, reluz e refrete como um espelho.  E as manhãs, são canções, que proclamam: minha vida, tua vida, nossa vida


by betonicou
Arte: Maria Pace-Wynters e Claudia tremblay

quarta-feira, 24 de abril de 2019

Paz de corvo © Copyright

 

Caiu do céu uma flor e despencou-se,

de meus olhos.

Caíram folhas e entornaram os anjos

que voejavam meus sonhos.

 

O universo vomitou os seus corvos

na minha rua.

As bandeiras já não tremulam

as minhas cores brancas.

 

Saíram para passear e não retornaram

as minhas ovelhas.

Tudo é soma, até a sorte

que nos deixa e despreza.

Tudo é conquista, pois até o que se perde,

às vezes, é sorte que se ganha.

 

Caíram do céu e despencaram-se

as nuvens macias do azul.

Porém, o azul é lindo e   as nuvens

embaçavam- lhe os sentidos.

 

O que é o frio, senão o escuro

sem calor que nos envolve, ou

o silêncio que buscamos na

música que nos fere os ouvidos?

 

A minha paz é branca, porém a guerra,

é que tinge minha bandeira.

O universo canta o meu silêncio,

porém meu frio pede lã.

 

Ainda caem tempestades onde

apenas o orvalho é necessário.

 

Não, ainda digo que não sei onde

caem as minhas flores!

A certeza, é que caíram de mim

no fechar dos meus olhos.

 

O azul é lindo, porém, é o marrom

que se aproxima;

dia a dia.

 

Meus pássaros imaginários cantam e,

voam nas minhas preces.

 

Oh, o inverno chegou e minhas asas

congelaram-se no seu voo!

Mãos se aproximam e não me

deixam cair sobre

meus próprios espinhos.

 

As minhas preces são elevadas

e entregues em bicos de pífaros.

 

Digo que não sei! Finjo que não sei

da luz que se apagou.

 

Eu sei que caiu aquela flor

e minhas águas desaguaram.

As minhas preces foram ouvidas

e ditas a mim pelos gorjeios.

 

São os pássaros, a me carregarem

no balaio do meu sono.

 

E eu estive, onde o ar, já não

sustentava as minhas asas quebradas.

 

As nuvens que caíram receberam-me

no macio do seu conforto.

Eram agora, melhores que o azul

que se pôs distante; no infinito.

Branca é a paz que circula as janelas

para o meu mundo interno.

  

Betonicou©


Arte: Huginn e Muninn -Ren Gran

domingo, 24 de março de 2019

Fugaz © Copyright



Quando se for, a saudade do amor não vale. Quanto se vale, é o peso do que ficou nos suspiros. As nuvens estão macias e o espirito encontrou travesseiro, à medida que  o ar lhe preparava os caminhos leves para dormir. 


A alma gorjeava, com sua leveza a tocar o sol. O vento dissipava como poeira póstuma, os restos do amor que na saudade, havia sido sepultado. A leveza voava seu passarinhar cósmico e sem pudor tocava as estrelas.

As lembranças vagavam, desajustadas, num redemoinho louco, porque, na memória, esperava-se teimoso por uma vã ilusão. O vento levava flores que rodopiavam, bêbadas, num ar alcoolizado, enquanto a lua, sorria; debochada.

Era a rede: cama, para deslumbrar a escuridão que vinha com suas sombras voantes, à medida, que a paixão fugia, tola, pelas janelas abertas de um olhar mais claro. Se se mede o amor: aquele, era mais baixo que minhas sonhadas nuvens. 


Betonicou©

- Arte: Yana Fefelova 

sábado, 16 de março de 2019

Equilibrio © Copyright



Amanheceu tão solar. As tardes ficam à espreita e as noites, com certeza, conseguem me encontrar. Os varais estão cansados das roupas sujas dos quintais. As chuvas se derramam, molhando o que era seco, sem juízo e sem sinais.


Entardeceram as lembranças que nem mesmo eu preciso repensar. Relembrar as cenas sem sentido, sem rosto, com máscaras, que das memórias não consigo mais tirar. É o mar! São esses os rios calados do meu interno desespero. São as margens despreparadas para apoiar meu transbordante destempero. Os meus lares são tão bonitos que acalmam os caminhos dessa trama. O dia vem todo com juízo, que seca, ilumina e apazigua com águas claras todo esse drama.


As margens estão caladas, com seus riachos calmos e brisas a lhe acalentarem a face açoitada. Os olhos estão multicores, com as cores das flores, a lhes emprestarem o jardim para a alma agora acalentada. O orvalho cai, antagônico, às tempestades dos dias, tardes e noites de expressões tumultuadas. O sossego refresca a alma, atada em redes numa árvore do arvoredo, com o ar carregado do leve e açucarado odor dos roseirais. Amanheceu ensolarado, mas entardeceu, com o sol se pondo, enquanto a noite nos espreitava e nos emprestava um sono, na paz, em meio aos temporais.

Betonicou©

 
Arte:Anna Silivonchik

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Mariposas , lobos e ruas© Copyright


 



Noite de estrelas. O homem sai às ruas. Esbarrou-se nas mariposas, nas rebeldes falcatruas. São tantas estrelas que vagueiam pelas ruas. São tantas luas, refletidas, nas poças das ruas nuas. O ar viciado embriaga o senso dos desavisados. o tabaco flutua em vapores secos e opacos. Na noite, em que as cores se acinzentam, os lobos caçam e as lobas amamentam. Os animais noturnos acuam e devoram. As mariposas perdem suas asas nos ares e, são devoradas, nos sujos balcões dos bares. As estrelas estão vermelhas. Os olhos, cansados, trocam as cores, deturpando o sentido cristalino. Na calçada, o homem vive o lado desatino. Vagam, pelas ruas, as mulheres rameiras. Tristes, vagam, pelas misérias; sem eiras nem beiras. Na noite, por mais sombria que seja, vagam os tolos boêmios, cantando lindas asneiras. Na calçada, cambaleia o homem, com tom embargado, cantante. Fuma um cigarro barato, revezando-o com a gaita, num tocar melancólico e angustiante. Um tombo, um levantar, um sentar desajustado. Ainda assim, sopra as notas, num soprar triste, de tons embriagado. Entre lágrimas e a dor do coração partido, procura refúgio, num pobre amor pago e distorcido. Sob a fria lua, um desabafo, jogado pelas ruas. Ante a lua, dançam as mariposas, sem asas, pobres e nuas. Na noite de estrelas e mágoas, cambaleiam as criaturas, pisando em distorcidos reflexos de luas, nas cinzentas poças de suas ruas..   





  by betonicou


 Arte:Marina Podgaevskaya-Moonlight by Marcin Wolski





sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Pais e órfãos © Copyright


O que queres de mim, pai ausente? Fez-me sofredor, sem teu afago e teu colo! Onde ecoa teu brado, lá, eu choro! Sou o pranto, o filho abandonado, às margens de tuas águas vermelhas.

Se o penhor desta igualdade nos torna filhos iguais, onde estará o meu lugar em teu seio? Conquistou-se com nosso braço forte A tua liberdade. Onde estará a nossa provisão neste quinhão? Penhorou-se?

Minha vida por ti! Onde receber o justo pago devido a mim? No Ipiranga, a busca pelo plácido suscitou-se, porém, as águas continuam vermelhas pelo teu desdouro.

O que queres de mim, pátria amada? Se te adoramos e clamamos em brado forte? Onde pousar os nossos sonhos? Ali, tu foste gerado. Ali, tu morreste, por ter-me esquecido às tuas margens.

O que fazer se deixou-me a perecer em teu rio de sangue? E a esperança, de um dia, Poder alcançar o real desejo por ti? Do povo, o maior anseio!

Perderam-se os raios brilhantes. O nosso amanhã sombreou-se. Estará, para sempre, o nosso céu, em nuvens carregadas e escurecidas? E nossas almas, quando vislumbrarão O tão sonhado e belo e esplendoroso porvir?

Qual será o meu legado, Diante do gigante, que diz ser pai gentil? Sozinho ou morto, em teu berço esplêndido? Do Ipiranga ao estige! Abandonou-me no leito do teu rio, sem nau a levar-me ao norte.

O filho varonil e sem medo não acolhe. Manténs-me em segredo, em teu grito de liberdade ou morte! Brasil!

O que nos pariu senão a barriga de todo o descaso? Vidas dormentes e brincadeiras leves Serão o nosso único refúgio.

Ah, mãe! Essa nos deu o berço de seu interno amparo, enquanto as nuvens nos moldavam as fábulas singelas acima desse solo de pai falso varonil.

Onde seus dragões vomitam fogos de lama vermelha. Afogam-nos em sonhos sufocados e inertes.

 

 
By betonicou




Obras de Candido Portinari.

 Mariana e Brumadinho, por vocês eu choro.