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sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Aurora © Copyright





  

—Terra, doce terra dos diáfanos rios!
—Voejou minha inocência em asas brancas de coruja, para ser sábio de pureza pousada no mar, também deitado em furiosas ondas impertinentes sobre o teu seio desgastado da paz e da beleza ansiada pelo meu espírito soprado para um ventre de dourados portões. Pasmo, gritei e chorei dependurado enquanto o sorriso se abria soprando o vento materno aos meus sentidos carentes de juízos.  Oh terra, dos doces e imarcescíveis abraços do ninho que se desfez ante os implacáveis ventos do tempo!  As tempestades sopraram seus acordes, num musicar rude, conforme a vida passeava como brisa tênue, feitas de moinhos de vento. Tão ingênua, delicada e ao mesmo tempo forte, é a vida, a vivenciar anjos e dragões; experientes e envolventes sopradores, além de exímios navegantes do ar. Eu limitado sob pernas trêmulas, apenas avanço, num cansaço de vida inalando o perfume e a contemplar a beleza das flores singelas, enquanto eles os voantes plantavam suas sementes nos frondosos campos de girassóis. Não haveria de lhes faltar farol, ou apenas seria aquele ato, uma suposta tentativa de nos presentear ou tentar com a inveja, ou de nos confortar com um campo de acenos alaranjados e celestes.  Ah terra, que tem meus pés como açoites, porém mais leves que os raios com seus gritos trovejantes a lhe ensurdecer e a mim, com gritantes conflitos! Sobre ti saciava minha fome de suas delicias, porém o mar de agruras envolveu-me de vermelhos e lamacentos lençóis.  Sou a vida que caminha injustiçada numa antes florada primavera. O inverno chegou distribuindo corações de gelo, e o fogo se fez tomador do presente e esse acenava em cinzas minhas belas e singelas lembranças. As nuvens se enegreceram em suas alvas e gasosas inocências e o céu de safira se fez carvão ante os dedos da ambição que lhe tateou e atravessou tocando e encobrindo o cintilar de suas estrelas. Minha humanidade divaga desajustada entre os sonhos e pesadelos, porém são os pássaros quem me emprestam seus gravetados ninhos e asas multicores para meu conforto de sono. Quisera eu, em minha delicada humanidade ter as asas dos seres voantes, para voltar ao ninho celestial do meu espirito viajante.

—Indagações e divagações! Surgia a vida da água morna onde os pequenos riachos em volta eram vermelhos feitos cor de uma rosa e o ar impregnado de jasmins. Ouvia-se o batuque de tambor. Imaginava-se eu, já naquele dilúculo tempo, um ser esperado com o fragor da ansiedade. Eram borboletas felizes aqueles olhos a chorar casulos brilhantes o surgir de minha luz. Era mãe, uma docilidade de beija-flor, a acolher-me em sua confortável ternura. Havia se passado os dias, pois criança mede o tempo em instantes de brincadeiras e o tempo maduro chamou seus serviçais para colherem o fruto que teimava em permanecer no verde dos figos. Assim foram surgindo as questões sobre a alegria singela, que fora enclausurada e presa em grilhões de responsabilidades. Vez ou outra fugia, para brincar uma inocência teimosa, pois criança não morre; fica presa numa gaiola de eternos  passarinhos.  
 By betonicou

Arte: Marina Czajkowska -Now Ru

Texto escrito especialmente para a antologia poética " Humanidade, a ser publicada em abril de 2020 pela: ACADEMIA DE LETRAS DE SANTA LUZIA (ALUZ)

21 comentários:

  1. Caro Beto,
    Gostei muito do que li aqui meu amigo... Tu continua tocando muito bem, tua "flautinha mágica".
    Concordo contigo em seu comentário final e faço um adendo... Não é fácil a vida atrás da telinha, também para nós que trabalhamos com mídias da Web o dia todo. Chegando em casa, tem dias que é mesmo... Banho, prato e sono.
    Um grande abraço!!!

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  2. Una maravilla de texto prosa poético que despierta los sentidos, a pesar de que no entiendo muy bien el idioma, intuyo un poco... Creo que, entre metáforas, expresa toda una vida desde la niñez, la juventud y la adulta.

    Claro está que, en una larga vida, unos menos y otro más, pasamos temporales, por esos días nublados y también navegamos con nuestra barca entre olas bravas que nos entristecen el alma y por mares rebeldes que parece que nos ahogan hablando metafóricamente, pero no todo es negativo, también tenemos cosas bellas e importantes en la vida, hermosos y esplendidos amaneceres, días radiante, mares en calma, paz y amor que nos llena de felicidad el corazón y el alma y tiramos hacia delante. Porque la vida es eso, no rendirse nunca. No es de color de rosa para nadie, los rocos también lloran
    Es este texto precioso, ese libro va a ser digno de leer. Es poesía intensa bella y profunda mi enhorabuena al autor@.

    Te dejo un abrazo y mi gratitud. Feliz fin de semana.

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  3. Y gracias a ti también por tu forma de escribir y transmitir, logras llegar al corazón del lector a través de tu bella y sentida prosa que más bien parece una poesía.
    Te deseo todo lo mejor.
    Cariños.
    Kasioles

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  4. É sempre muito bom ler seus tão bem escritos texto.

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  5. Boa noite,
    Vim conhecer o seu blog, saio encantada com seu talento.

    Seguirei seu blog.
    Saudações.

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  6. "Eu limitado sob pernas trêmulas, apenas avanço, num cansaço de vida inalando o perfume e a contemplar a beleza das flores singelas, enquanto eles os voantes plantavam suas sementes nos frondosos campos de girassóis."

    Boa noite de paz interior, amigo Beto!
    Aqui não tive como prosseguir... tive que parar e respirar absorvendo a essência da sua prosa poética.
    Tudo lindamente elaborado para 'agradar' a todos os contemplativos.
    Há tristezas da lama vermelha a cobrir rios outrora limpinhos a apreciar.
    Faz algum tempo que passei, num ônibus interestadual, por um bando de borbletas vindo de São Mateus, ES à Vitória... foi tão lindo e me lembrei agora. Minutos o ônibus no meio das borboletas amarelas em profusão... na reserva florestal de lá.
    Seu post revela algo lindo que nos sustenta a todos certamente: nossa infância amada onde éramos tão felizes e nem sabíamos o quanto.
    Muito obeigada por tão bela prosa por aquio.
    Tenha um final de semana abençoado e feliz!
    Abraços fraternos de paz e bem

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  7. Querido amigo Beto, que esplendor de prosa poética!
    Verdade, você desapareceu e levou doçuras poéticas, nos privou em lê-las. Mas está de volta, que bom.
    "Sou a vida que caminha injustiçada numa antes florada primavera". Que lindo.
    Sim, meu amigo, a vida é cheia de surpresas, e não nos poupa de uma pedra no caminho. Mas haveremos sempre de prosseguir.
    Um lindo fim de semana, bom para descansar, e não esqueça, como borboletas felizes!
    Beijo.

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  8. Eres una maravilla.Te deseo lo mejor del mundo querido poeta

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  9. Querido Amigo.
    Gostei de saber que está mais aliviado de trabalho, já tinha saudades de o ler.
    Admiráveis imagens poéticas, analogias, antíteses e metáforas que se conjugam em textos maravilhosos e muito agradáveis.
    Li, reli e ainda vou voltar para ler novamente.
    Esperando pelo livro...
    Votos de um Dezembro de paz, tranquilidade e literariamente profícuo.
    Uma semana repousante e tranquila.
    O meu terno abraço, Beto.
    ~~~~~~~~

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  10. Venho sentindo sua falta, mas com o tempo observei que independente da estação que esteja vivendo, você tem o seu próprio tempo, ele não para nem na vida real, nem na telinha, ele passa e quando vemos passou.
    Lendo sua prosa, vejo a vida passar com turbulência, problemas, injustiças, a fúria de sentimentos bons e ruins, a vida em lama e fogo de realidade, em meio ao desgaste precisamos de fuga, acordar do pesadelo real e voar nas asas do sonho, na ponta de uma caneta voltar a ser criança com a eterna responsabilidade do faz de conta.
    Dívida o seu tempo, se dê um dia, uma hora, uma vida para voar nas asas do seu prazer, isso sim é viver.

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    Respostas
    1. Na verdade , Iara; eu vivo intensamente… O texto não só retrata minha vida, mas sim, a humanidade; como pediu o projeto. Nesse , o "eu lirico" incorporou nossa frágil essência… Bom ter você por aqui. Grande beijo.

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  11. Belíssimo texto para marcar o regresso.
    Aquele abraço, boa semana

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  12. Beto,
    Já faz tempo que aprendi
    que aqui nos blogs temos um
    espaço estático com interação.
    Pessoalmente não aprecio desculpas
    ou cobranças. Mas justificativas
    cabem sempre, é consideração com
    os que se preocupam e não cobram.
    Seus textos são lindos, uma delícia de
    serem lidos. Aprecio as ilustrações,
    sabe disso.
    Sou grata por nos brindar.
    Bjins
    CatiahoAlc.

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  13. Um texto magnífico (mais um...).
    Parabéns pela sua futura publicação.
    Caro Beto, continuação de boa semana.
    Abraço.

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  14. Caro amigo das Gerais que bom lhe ver com esta magnifica inspiração para mais um voo numa antologia. A riqueza de metáforas nestas indagações e divagações criticas de uma humanidade um tanto quanto inerte e apodrecida e o fechamento no sonho de menino ficou lindo.
    E chega-se a mais um fim de ano, com todas as suas correrias e atropelos, é preciso saber dosar e permitir ao corpo a recuperação.
    Uma boa semana na paz de passarinho.
    Terno abraço amigo.

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  15. Um texto absolutamente notável!!!
    Muitos parabéns, pela merecidíssima publicação!...
    São as responsabilidades, mesmo, que matam a criança que há em nós... e por vezes até a consciência da gente... quando outros valores falam mais alto...
    Adorei o texto, que de indagação em indagação... parte da Terra, até chegar à mais pura essência de cada individuo... pois todos nos identificamos, com o seu eu...
    Muitos parabéns, uma vez mais!
    Um grande abraço!
    Ana

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  16. Reli com o mesmo prazer e enorme admiração...
    A sua participação muito abrilhanta a vossa antologia e honra a ALUZ.
    Dias de prelúdio de Natal serenos e felizes.
    Abraço grande.
    ~~~
    Amigo, enviei e reenviei um mail importante...
    Penso que não reparou... Bj
    ~~~~~~

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  17. Beto,
    Nessa sexta feira
    estou passando para
    deixar meu abraço e reler
    seus lindos textos.
    Bjins
    CatiahoAlc.

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  18. Passei para ver as novidades.
    Caro Beto, aproveito para lhe desejar um bom fim de semana.
    Abraço.

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  19. Si, Beto, amigo la vida nos da de todo algo como en la viña del Señor, pero es inmensamente hermoso poder contarlo. A veces no nos llega es brisa cálida que tanto deseamos, pero otras veces, el primer rayo de sol que entra por nuestra ventana compensa el mal rato pasado, nada hay fácil en este caminar por la vida.
    Me tome la libertad de traducir estas letras tuyas.

    +++++++++++++++++++++++++++++++++++++++
    Yo limitado sobre mis piernas trémulas, apenas avanzo, un cansancio de vida inhalando el perfume y contemplo las flores sencillas. Sinxelas…
    ++++++++++++++++++++++++++++++++++++++

    Es una prosa preciosa, una joya de muchos quilates. Gracias
    Te dejo un abrazo lleno de bendiciones para este año que termina y para el otro que comienza.2020.
    que todos tus sueños se vean realizados.

    GRACIAS POR TU AMISTAD.

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