Essa é uma história,
mas não é uma história qualquer. É um daqueles contos que a gente encontra
perdido no fundo do quintal, entre as folhas secas e os cacos de telha, sentado
em uma cadeira quebrada. Uma história não se preocupa muito com começo, meio e
fim, porque o que importa mesmo é o sentir, a preocupação de saber do espaço.
Havia um pedregulho que
sonhava em ser lua. Não que ele fosse infeliz, mesmo sendo uma pedra. É que às
vezes ele se pegava olhando para cima, pensando como seria flutuar no céu, fazendo
companhia para as estrelas e para as pedras com caudas em movimento.
Numa dessas noites, um
grilo, que não era desses de cantarolar serenatas, mas sim de gritar tilintando
verdades, encontrou o pedregulho. A pergunta foi inevitável:
– O que você faz aí
parado, pedregulho? – perguntou o grilo.
– Eu tô aqui sonhando
em ser lua – respondeu o pedregulho, em alta voz silenciosa.
O grilo, que era muito
sabido das coisas do chão, porém curioso sobre as coisas do alto, decidiu
ajudar o pedregulho.
– Bom, eu não sei muito
sobre ser lua, nem ser vaga-lume, mas sei que pra chegar lá em cima, a gente
tem que ter leveza; música de plumas ou rendas de vento. Sobre leveza,
experimentei apenas nos sonhos que flutuam e nas estrelas que parecem cintilar
sentidos.
O grilo iniciou uma
contação de histórias para o pedregulho. Histórias de vento, de rio que corre
para abraçar e se misturar com o mar. Também contou sobre libélulas
narcisistas, visitantes de águas paradas, a se espelhar, e de passarinhos que
se despedem do ninho para aprender a arte de voar. Enquanto contava, o
pedregulho ia sendo tomado de leveza, dessas que flutuam ferro em nuvens.
E foi assim que o
pedregulho virou lua. Não virou uma lua de verdade, daquelas que a gente vê no
céu. Virou uma lua de sonho, que só quem tem olhos para ver o invisível
consegue enxergar.
E o grilo? Bom, o grilo
continuou por aí, gritando suas verdades e ensinando. Afinal, era um chão duro
que levava pedras a brincarem de ser pássaros e a sonharem com evolução.
Betonicou©
“Os mistérios da mente são tecidos pela
sobrevivência dos sonhos na realidade. A pedra se levanta em lua, e eu, grilo,
grito a seres que vagam em trilhas de lumes”.
Amigos, resolvi fazer algo diferente nesta postagem: um
conto, no estilo fábula, que é muito do meu gosto. Espero que apreciem!