A indiferença é
assim:
Sem fogo se
derrete,
alimentada pelo
ego que se vê
cristalino.
Sem tocar
espanca.
Exige o que lhe
é devido,
pelo credo que
vê opaco o
diferente.
Não são todos os
homens que
aspiram um olhar retilíneo;
olhar de
horizonte.
Se é
indiferente,
pouco se há de
responsabilidade.
Pelo olhar que
enxerga e julga
como tirano.
Nem todos têm
idade para se
curvar;
se moço,
curva-se aos prazeres,
indiferente à
responsabilidade
que lhe cabe.
Se idoso: já
estando curvo,
sob o peso da
experiência,
quase sempre se
eleva,
mesmo sob o peso
da idade.
A humildade se
curva,
pois diferente
da indiferença do
ego,
apenas se
abaixa;
para catar os
cacos de uma
vaidade largada
e despercebida de
si mesma, no chão.
Vinho me deixa
diferente,
pois a razão
bêbada se descontrai
em meros e desapegados
pressupostos.
Os bêbados,
líricos de tudo,
vivem diferentes.
Beber vinho para
esquecer a
indiferença passa a ser uma
diferença ridícula.
Ser ridículo, às
vezes, leva-me a
tomar vinho.
O álcool não é
ridículo: apenas
indiferente às minhas tolas e
divagadas
razões.
A desculpa, em
beber vinho pela
indiferença, é
uma diferença
tola.
Bom mesmo, é
acompanhar aquele
prato: um emaranhado de massas
tontas, moles,
indiferentes às
minhas inúteis e diferentes
especulações.
Não diferente —
“Gosto do
indiferente olhar do sol sobre o
mundo.”