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sábado, 2 de dezembro de 2023

A Indiferença do Ego e o Vinho da Razão© Copyright

 



A indiferença é assim:
 
Sem fogo se derrete,
alimentada pelo ego que se vê
 cristalino.
Sem tocar espanca.
Exige o que lhe é devido,
pelo credo que vê opaco o
 diferente.
 
Não são todos os homens que
 aspiram um olhar retilíneo;
olhar de horizonte.
Se é indiferente,
pouco se há de responsabilidade.
Pelo olhar que enxerga e julga
 como tirano.
 
Nem todos têm idade para se
curvar;
se moço, curva-se aos prazeres,
indiferente à responsabilidade
 que lhe cabe.
Se idoso: já estando curvo,
sob o peso da experiência,
quase sempre se eleva,
mesmo sob o peso da idade.
 
A humildade se curva,
pois diferente da indiferença do
 ego,
apenas se abaixa;
para catar os cacos de uma
vaidade largada e despercebida de
 si mesma, no chão.
 
Vinho me deixa diferente,
pois a razão bêbada se descontrai
 em meros e desapegados
pressupostos.
 
Os bêbados, líricos de tudo,
 vivem diferentes.
Beber vinho para esquecer a
 indiferença passa a ser uma
 diferença ridícula.
 
Ser ridículo, às vezes, leva-me a
tomar vinho.
O álcool não é ridículo: apenas
 indiferente às minhas tolas e
divagadas razões.
 
A desculpa, em beber vinho pela
indiferença, é uma diferença
tola.
Bom mesmo, é acompanhar aquele
 prato: um emaranhado de massas
tontas, moles, indiferentes às
 minhas inúteis e diferentes
 especulações.
 
Não diferente — “Gosto do
 indiferente olhar do sol sobre o
 mundo.”

 



Betonicou©

Arte: Maxine Noel

Maxine Noel assina sua arte com seu nome Sioux IOYAN MANI, que se traduz como 'Walk Beyond'.


15 comentários:

  1. Boa noite de sábado, amigo Beto!
    Meu Deus! Que isso!
    Um jogo de metáforas deslumbrantes compôs seu poema de forma espetacular.
    Fui lendo como se bebe uma taça de bom vinho...
    Um deleite só na tardezinha cheia de razão de ser, curvada pela beleza da sua sabedoria de poeta que sabe associar a vida ao que ela nos brinda, gratuitamente, como trunfo na maturidade: a humildade.
    O pensamento final é bárbaro bem como a imagem ilustrativa.
    Tenha um final de semana abençoado!
    Abraços fraternos

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  2. Meu bom amigo Adalberto,
    Quem se esquiva do golpe como se estivesse lutando esgrima, evita o ferimento, mas, sem cicatrizes não se contam histórias de vida.
    Aqueles que permanecem indiferentes alimentam o ódio. O fogo, meu caro amigo, não acende sozinho e se os egos queimam, há alguém alimentando-o.
    Não existe uma linha reta quando se observa o Mundo em “belos horizontes”. O que precisamos é de retidão nas atitudes, porque, até a brisa afasta as palavras proferidas.
    São belos versos meu amigo Beto.
    Abraços alvinegros de “galo e estrela!!!”

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  3. A good poem that expresses the righteousness of people's nature.
    (ꈍᴗꈍ) Poetic and cinematographic greetings.

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  4. Respostas
    1. Idem, Pedro! Escrevi este poema no inicio de 2021. Apenas agora resolvi postar. Abraço.

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  5. "Gosto do indiferente olhar do céu sobre o mundo". Gostei deste final do seu texto com divagações sobre comportamentos perante a indiferença. Sempre ouvi dizer que a indiferença é uma arma poderosa.
    Há um filósofo que diz que somos cúmplices do que nos deixa indiferentes. Claro que se refere à nossa indiferença social e não pessoal. Ou talvez se refira aos dois casos. Foi um gosto ler este seu texto que me questionou.
    Tudo de bom.
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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  6. Ninguém poderá ficar indiferente perante tao magnífico poema.
    Gostei imenso, os meus aplausos.
    Boa semana.
    Abraço.

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  7. Do início ao "gran finale" ,simplesmente maravilhoso,Beto! Parabéns! abração, chica

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  8. Profunda reflexión. La indiferencia matara al ser humano. Te mando un beso.

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  9. Pois eu não fiquei indiferente perante composição poética tão reflexiva.
    E também “Gosto do
    indiferente olhar do sol sobre o mundo.” essa é que é uma boa indiferença.

    Beijinhos

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  10. Olá, querido Beto, a indiferença é um sentimento insuportável, mas algumas vezes precisei usá-lo para evitar atritos, tem esse seu lado. Mas, na verdade, gostaria de nunca usá-lo, não me faz bem, é algo mesquinho, mas evita muitos dissabores. Usei para deixar passar a arrogância, a ingratidão e outros sentimentos que criam, ao natural, um distanciamento. Uma boa reflexão sobre a Indiferença, gostei de ler, meu amigo, muito bem escrito, e dito!
    Um bom fim de semana,
    beijinho.

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  11. Gostei de reler este excelente poema.
    Um abraço e boa semana.

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  12. Só volto para o ano.
    Desejo-lhe um Natal cheio de Amor e um ano de 2024 com saúde e paz.
    Um beijo.

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  13. A indiferença está corroendo este nosso pobre mundo... colocando em causa até a própria sobrevivência da humanidade. Não se contentando a humanidade em ser indiferente para com o próximo... também o é com o mundo, como se houvesse um outro de reserva... pronto a acolher todo o espectro de vontades e formas de ego, no seu máximo esplendor, de cariz corrosivo e destrutivo...
    Eu tenho para mim, que o bicho Homem, será o ser mais destituído de realidade... intoxicado pelo seu próprio ego...
    Um poema notável, que nos oferece uma preciosa reflexão sobre uma transversalidade de diferentes realidades... e planos diversos, do ponto de vista das relações humanas... muito bem construído, e repleto de preciosas mensagens! Como sempre, um momento poético, de excelência... com um iluminado olhar interior, e que tão bem nos explica as indiferenças que grassam pelo mundo...
    Um beijinho! Continuação de uma excelente semana e de um Feliz Dezembro!
    Ana

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