Era uma árvore com sombras frescas, gerando sombras
sob sua copa frondosa. Filha da natureza, erguia-se como uma bandeira verde
sobre a montanha fria de mármore. De frutos pendentes e orvalhados, reinava na
serra com a majestade de uma rainha.
A deusa da montanha erguia-se em tronco de carvalho.
Meu corpo descansava, debruçado no quadro vazio de madeira. Porém, meus olhos
já não viam o motivo da minha saudade. Lá na serra, havia um "ser" de
madeira. Eu, seu órfão, sentia-me vazio na minha maturidade.
Sou órfão das minhas lindas lembranças. Sou órfão de
quem habitava a altitude da montanha, de quem era o motivo das minhas
constantes contemplações. Sou órfão de tudo que a criança via. Sou filho das
minhas recordações.
A serra era o meu quadro, o enfeite da minha
inocência. A árvore erguia-se sobre a pedra fria, suprindo de beleza a
descoberta frígida, embrulhada em lençóis de carência. A minha janela
emoldurava o quadro da serra, num abraço delicado e terno.
O inocente olhar imaginava o para sempre, que nem
sempre é eterno. Eu me lembro das ruas singelas, da nudez do chão de barro
vermelho. Eu me lembro de todas as flores que cobriam a serra. Cobriam-na por
inteiro.
Lá na serra, habitava a nobreza, a majestade com
corpo de árvore. Hoje, lá na serra, há a insana pobreza dos edifícios sem vida,
lápides da árvore, sobre a frieza mórbida do mármore.
Betonicou©
Responderei caso for preciso.
Segundo volume, da trilogia Moheki, a caminho!
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