Páginas

terça-feira, 2 de maio de 2023

Jardins de pedras © Copyright

 


Era uma árvore com sombras frescas, gerando sombras sob sua copa frondosa. Filha da natureza, erguia-se como uma bandeira verde sobre a montanha fria de mármore. De frutos pendentes e orvalhados, reinava na serra com a majestade de uma rainha.
 
A deusa da montanha erguia-se em tronco de carvalho. Meu corpo descansava, debruçado no quadro vazio de madeira. Porém, meus olhos já não viam o motivo da minha saudade. Lá na serra, havia um "ser" de madeira. Eu, seu órfão, sentia-me vazio na minha maturidade.
 
Sou órfão das minhas lindas lembranças. Sou órfão de quem habitava a altitude da montanha, de quem era o motivo das minhas constantes contemplações. Sou órfão de tudo que a criança via. Sou filho das minhas recordações.
 
A serra era o meu quadro, o enfeite da minha inocência. A árvore erguia-se sobre a pedra fria, suprindo de beleza a descoberta frígida, embrulhada em lençóis de carência. A minha janela emoldurava o quadro da serra, num abraço delicado e terno.
 
O inocente olhar imaginava o para sempre, que nem sempre é eterno. Eu me lembro das ruas singelas, da nudez do chão de barro vermelho. Eu me lembro de todas as flores que cobriam a serra. Cobriam-na por inteiro.
 
Lá na serra, habitava a nobreza, a majestade com corpo de árvore. Hoje, lá na serra, há a insana pobreza dos edifícios sem vida, lápides da árvore, sobre a frieza mórbida do mármore.


Betonicou©

 

 Responderei caso for preciso. 


Segundo volume, da trilogia  Moheki, a caminho!


Sigam-me no Instagram! @betonicou