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terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

Pássaro Terrestre © Copyright

 


Eu escrevo, apenas escrevo, mas nem sempre foi assim. Houve um tempo em que eu escrevia para a natureza, para as coisas simples. Periodicamente ainda escrevo. Atento para os bichos e as plantas, para o chão e o céu. Sempre escrevi como quem brinca, como quem imagina e sonha, como quem se encanta e também, como quem se borda e tece. Brotavam as palavras que nasciam de mim, sem que eu me preocupasse com as regras ou os sentidos. Subjetivamente eu ouvia e via a beleza do ínfimo abraçando a grandeza do infinito. Eu escrevia com o olhar de criança, com a alma de pássaro e a mão desenhista de ar. Mas algo mudou em mim. Talvez tenha sido o tempo, que me fez crescer e envelhecer. Talvez tenha sido o mundo, que me fez ver e refletir. Talvez tenha sido o humano, que me fez sentir e renascer. O fato é que eu comecei a escrever a natureza do humano (reflexos de mim), para as coisas complexas e importantes do homem, para o corpo e a alma. Como quem busca, como quem questiona, como quem se espanta. Como quem compara a rocha e o céu, com as palavras que aprendi dos outros, tentando seguir as normas e os significados. Comecei a me expressar como os poetas que me mostraram a diversidade das emoções, a poesia de tudo, a dor do útil e a leveza da pluma que navega no vento. Aprendi a bordar palavras com o olhar de adulto, com a alma agarrada ao chão, com a mão estendida para o sentido do fogo e o fluxo do rio. Eu não sei se evoluí ou se regredi. Não sei se me encontrei ou se me perdi. Não sei se me aproximei ou me afastei do humano. Eu só sei que eu escrevo, apenas escrevo. Às vezes, eu sinto que tenho  alma de pássaro, outras vezes, uma mão coerente com a correnteza das águas. E que, às vezes, eu sinto saudade da natureza, das coisas simples que piam, nadam ou apenas dormem uma inércia involuntária. Eu invejo o grito da imensidão estacionada das pedras. As pedras se deitam, em prece aos bichos e às plantas, ao chão e ao vazio do céu. Não se iludam! “As rochas veem e cultuam, em silêncio.”

Betonicou©

Arte: simona dimitri


Meus queridos, estarei de férias. Volto no fim de Fevereiro! Até lá!