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sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

Crisálida© Copyrigh

 

   Vivo por fios de possibilidades.
Sou planta que descansa num
jardim confiável, pelas mãos de
um jardineiro não sedentário.
Cachos de uvas doces desapontam-me
se há no meio o azedo que  os empobrece.
Gosto das cores que se completam
num quadro que amansa os olhos.
Carrego em mim o peso destinado
às formigas, assim como carrego
dentro de mim, ares leves, ambos
amontoados num clamor interno,
feito cantar gritante de cigarras.
Sofro de vontades mórbidas,
desfiguradas, sementes em 
metamorfoses vãs, fora das crisálidas.
Luto um luto, pois há em mim,
enterros, a cada momento, de
coisas involuídas (evolução de
traças para troços evoluídos).
Quando poesia:
sou orvalho que evapora,
semente aquosa, a evoluir-se
em nuvens prenhas.
De verso em verso,
a poesia vai gritando,
silenciosa.
De pingo em pingo me tornando chuva.

Betonicou©

Arte-Denis Sarazhin-Costa Dvorezky

Responderei se for preciso.