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terça-feira, 5 de outubro de 2021

Pássaro anoitecido © Copyright

                                                                        

Ah, mãe noite, com olhos de estrelas e lua! Ah, sol! Pai exaltado, amanhecido, contemplado! De minhas janelas, namoro as fases de minha rua. Visões mais belas, quando, na minha terra, enamorado, eu estou a contemplar-lhes do chão. Faço reza esvoaçante, feito flor de leão. Assim, vou eu: lançado, à deriva ao vento, numa prece, desprendido em oração. Quando, no cerrado, a cavalo, a trafegar em galope, observando o dia, anoiteço sem perceber que, em espirito, eu já amanheço. A alma se entrega, em asas velozes, às singelezas de passarinhos. Sou pardal, canário e curió destas matas de plantas rasteiras, onde árvores mães acolhem-me na brandura de seus ninhos. No tempo que é noite, sou passarinho preto envaidecido, a cantar, num momento esquecido, num gorjeio longo, insone, de alegres rasantes emplumados. Em alto brado, num choro de alegria amanhecida, pouso em meio aos meus: singelos seres, pássaros encantados. Suavemente, as estrelas se retiraram, então, posso fazer meu canto dormir pela tarde mais tarde acontecida. Oro ao céu que me sombreia mais uma vez, numa noite enaltecida que ilumina generosa de estrelas e lua a ternura do voar que está por vir.  Ah, veredas! Oásis, onde pouso a minha sede! Há lugar melhor sobre esse chão?! Sou, também, o homem que descansa o seu corcel da poeira empobrecida ou, quem sabe, seja esse meu cavalo lunar, errante, pois das estrelas, talvez, tenha se tornado vagante. Serão suor ou orvalho as águas vertentes desse meu valente alazão?! O meu lado que dorme, na relva primaveril enverdecida, divaga solto, em alma leve, como pétala que voa embevecida. Tornando tudo mais visível desta terra o lindo céu do meu sertão.


Betonicou 
Arte:Tracie Grimwood -tadashi nakayama

Poema inspirado na obra " Grande sertão: veredas"  do grande , João  Guimarães rosa. 
Responderei se for preciso.