Ah, mãe noite, com olhos de estrelas e lua! Ah, sol! Pai exaltado,
amanhecido, contemplado! De minhas janelas, namoro as fases de minha rua.
Visões mais belas, quando, na minha terra, enamorado, eu estou a
contemplar-lhes do chão. Faço reza esvoaçante, feito flor de leão. Assim, vou
eu: lançado, à deriva ao vento, numa prece, desprendido em oração. Quando, no
cerrado, a cavalo, a trafegar em galope, observando o dia, anoiteço sem
perceber que, em espirito, eu já amanheço. A alma se entrega, em asas velozes,
às singelezas de passarinhos. Sou pardal, canário e curió destas matas de
plantas rasteiras, onde árvores mães acolhem-me na brandura de seus ninhos. No
tempo que é noite, sou passarinho preto envaidecido, a cantar, num momento
esquecido, num gorjeio longo, insone, de alegres rasantes emplumados. Em alto
brado, num choro de alegria amanhecida, pouso em meio aos meus: singelos seres,
pássaros encantados. Suavemente, as estrelas se retiraram, então, posso fazer
meu canto dormir pela tarde mais tarde acontecida. Oro ao céu que me sombreia
mais uma vez, numa noite enaltecida que ilumina generosa de estrelas e lua a
ternura do voar que está por vir. Ah,
veredas! Oásis, onde pouso a minha sede! Há lugar melhor sobre esse chão?! Sou,
também, o homem que descansa o seu corcel da poeira empobrecida ou, quem sabe,
seja esse meu cavalo lunar, errante, pois das estrelas, talvez, tenha se
tornado vagante. Serão suor ou orvalho as águas vertentes desse meu valente
alazão?! O meu lado que dorme, na relva primaveril enverdecida, divaga solto,
em alma leve, como pétala que voa embevecida. Tornando tudo mais visível desta
terra o lindo céu do meu sertão.
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terça-feira, 5 de outubro de 2021
Pássaro anoitecido © Copyright
Arte:Tracie Grimwood -tadashi nakayama
Poema inspirado na obra " Grande sertão: veredas" do grande , João Guimarães rosa.
Responderei se for preciso.