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terça-feira, 27 de julho de 2021

A liberdade das coisas © Copyright

 

Ah, anseio despertar do silêncio asfixiante que me aprisiona. Ecoar meus gritos ao longo das margens daquela serra distante. Um monte, onde aos seus pés, possa adormecer como um viajante errante. Quero vagar, liberto de minhas memórias, construindo novas lembranças na jornada de descobrir uma terra desconhecida. Sentir a carícia de um vento novo, um olhar que fascina a alma. Despertar uma chuva de gotas leves, uma calmaria repentina. Não quero tempestades duradouras, nem rios mansos, pois preciso fazer valer, ou ao menos amenizar, o meu grito. Deitar-me na relva verde, onde, imerso em meus pensamentos, permito que adormeça em mim o sentir que reflito. Entardecer em silêncio, num esfriamento de uma manhã ensolarada. Anoitecer vagante, despreocupado, na relva, feita leito, de um adormecer que anseia por um sono imperturbado. Na madrugada, contemplar as estrelas, enamorar-se da lua. Sentir cabelos leves ao toque de meus dedos. Deixar meus atos escorrerem na face do ser amado. Versar em silêncio, pois apenas os gestos gritam as vertentes da chuva que se transforma em dança, ao amor de longos instantes. Anseio pela manhã, onde, brilhante, o sol desponta. Anseio pelo dançar dos ares, pelo voejar leve dos passarinhos, livres das grades, no ninho dos amantes. Uma liberdade emancipada dos ares pesados. Jorrar a vertente de um som, de uma voz alta, porém, com a calmaria de uma brisa mansa. Ser um navegante em ventos ressoantes.

                                                         

Betonicou©

Arte-: Yoko Tangi

Responderei caso for preciso