Ah, anseio despertar do silêncio asfixiante que me
aprisiona. Ecoar meus gritos ao longo das margens daquela serra distante. Um
monte, onde aos seus pés, possa adormecer como um viajante errante. Quero
vagar, liberto de minhas memórias, construindo novas lembranças na jornada de
descobrir uma terra desconhecida. Sentir a carícia de um vento novo, um olhar
que fascina a alma. Despertar uma chuva de gotas leves, uma calmaria repentina.
Não quero tempestades duradouras, nem rios mansos, pois preciso fazer valer, ou
ao menos amenizar, o meu grito. Deitar-me na relva verde, onde, imerso em meus
pensamentos, permito que adormeça em mim o sentir que reflito. Entardecer em
silêncio, num esfriamento de uma manhã ensolarada. Anoitecer vagante,
despreocupado, na relva, feita leito, de um adormecer que anseia por um sono
imperturbado. Na madrugada, contemplar as estrelas, enamorar-se da lua. Sentir
cabelos leves ao toque de meus dedos. Deixar meus atos escorrerem na face do
ser amado. Versar em silêncio, pois apenas os gestos gritam as vertentes da
chuva que se transforma em dança, ao amor de longos instantes. Anseio pela
manhã, onde, brilhante, o sol desponta. Anseio pelo dançar dos ares, pelo
voejar leve dos passarinhos, livres das grades, no ninho dos amantes. Uma
liberdade emancipada dos ares pesados. Jorrar a vertente de um som, de uma voz
alta, porém, com a calmaria de uma brisa mansa. Ser um navegante em ventos
ressoantes.
Betonicou©
Arte-: Yoko Tangi
Responderei caso for preciso