
Desenfreada estação da vida. Ondas de notas tênues a tocar os ouvidos em sons de flautas desafinadas. Sobre a cama debrucei lençóis de lembranças empoeiradas, que dantes, eram pensamentos guardados em prateleiras sossegadas. Havia um canto no quarto esquecido de minha mente. Havia um quarto com canto de menino a soar tão docemente. Havia um quintal onde a simplicidade habitava junto aos pés de limeiras. Havia um teto feito da proteção das telhas vermelhas, num quintal reinado pelas aves esganiçadas e arruaceiras. Sobre a cama o corpo descansa de suas rotinas cansadas enquanto a alma se orquestrava junto às memorias brotadas e agitadas. Era forno e fogão, eram dias meus de arrumação. Maneiras se foram; quero descansar. A lenha trepidava incandescente e o forno que consumia o fogo paria generoso meus pedaços de pão. Outono mais uma vez surgiu. Folhas caíram do meu agitar ao vento. É chão, minha lembrança mais bela desde então. É lençol de grama, travesseiro de pequenos montes, onde desembrulhei quem sou. Estações marcaram de diferenças todo meu canteiro. Havia uma janela, donde embrulhei singelas lembranças; onde guardei quem sou, onde sonhar eu vou por inteiro. Ah, meu mundo lá detrás! São lembranças velhas de menino, de tempos atrás. Vieram de tão distantes, as memorias, em lençóis de sonhos. Um passeio alegre, mesmo que amedrontado estou. São lembranças longe, mas as cantei em paz.

♪♫♪♫ Betonicou©
Arte: Judith Clay