
Canta,
passarinho, com voz inocente ao vento
E
solta todas as notas que guardas no peito.
Sente
a beleza e a tristeza do ar que respiras
E
transforma em canto de criança as notas fúnebres.
Canta
as preces que te dão conforto e esperança.
Hoje
eu acordei com os pardais e saudei a luz
Que
nasce para todos os mortais.
Pedi
uma prece adormecida, amordaçada em bicos silenciosos.
Pedi
ao calado um silêncio cantante
E
me encantei com os gestos racionais.
Por
que me cantas a lembrança, ó falsa esperança,
Nos
bicos dos rouxinóis?
Eu
vi meus restos emocionais espalhados nas águas dos baixos
E
escondidos lençóis.
Canta
a prece, mas cala a voz da música iludida.
Aquela
que teima em musicar a dor incontida.
Gorjeiam
os pássaros ocultos por entre as árvores,
Para
que não descubram a paixão escondida,
Porque
o passado sempre vem no presente buscar
O
blues dos perdidos.
Então
canta a melancolia e canta os bemóis aflitos.
Porém,
perdidamente tão bonitos.
Porque
a saudade é o tempo para passeios na inocência perdida.
Não
o tempo das recordações, das paisagens destruídas
Ou
meramente diluídas.
Canta
a poesia dos cegos, pois esses podem ver
Um
mundo pintado de confiança.
Canta
a poesia dos mudos, aquela voz calada,
Até
diante da louca e tola lembrança.