Enganei
tudo e nada enganei. Foram tantas armações e são tantas divagações
Que
me indaguei: Por que enganar a vida, se a morte não se engana?
Enganei
meus próprios versos e escrevi o que hoje está sendo revisado.
Arrependo-me,
por não ter ao menos uma vez, enganado o tudo que se fez nada.
Enganei
os céus e pedi chuva. Enganei o sol, pois queria a lua.
E
enganava a lua querendo o sol. Enganei o ar, pois queria fumaça para preencher
meus pulmões.
Enganei
quase tudo e não enganei os caminhos do coração.
Enganei
as minhas estradas quando escolhi outros caminhos
E
escolhi enganar de amar, a ser enganado de ser amado, não odiar e ser odiado.
Enganei
o universo, pois subi acima do que para mim estava permitido.
Nos
meus delírios voei além dos limites. E
enganei a mim!
Eu
queria ganhar e não perder. Porém às vezes, quando perde engana-se de ganhar.
E
enganei todos os sons, quando emudeci. Enganei as águas, quando nadei contra as
correntes.
Enganei
as minhas mãos, quando toquei as brasas que queimam.
E
enganei as lindas janelas, quando escolhi apenas observar o adeus.
Enganei
minha própria face, quando deveria sorrir e não chorar a despedida.
Enganei
a inocência, quando aprendi a olhar e desejar.
E
enganei-me de inocência, quando veio o desejo e desviei o olhar.
Enganei
todos os meus medos, quando enganei a mim mesmo e tive coragem.
Enganei
o meu peito, quando de amor sofri; e bastava apenas suspirar e respirar leve.
Enganei
e enganei! Mas eu queria mesmo era enganar meu coração, alimentá-lo da minha
razão.
Mas
enganei a própria lógica do meu raciocínio. E escolhi não me enganar de frieza.
Enganei
todos os sentidos, mas não enganei o meu modo de enganar a vida.
Sim,
enganei todos os caminhos da desistência! Enganei os versos vazios e
enganei-me, quando resolvi enganar-me!
Enganei-me
escrevendo para a vida um verso torto nas linhas da minha imaginação...
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