
Brincamos
de tudo um pouco nesse parque
temático
Nascemos de uma vez só nesse parto
dramático
Bebemos a água engarrafada desses plásticos
sintéticos
Comemos uns caracóis como se fosse um
prato exótico
Vivemos
nas multidões como se fôssemos o
último
ser autêntico
Perdemos nossas vontades e nossas loucuras
são
tímidas e céticas
Fazemos da plateia a nossa marionete de
gestos
e risos patéticos
Subimos na plataforma, mas encenamos tudo
de
forma lúdica e poética
Perdemos
toda a vontade de fazer as coisas
boas
ou irônicas
Brincamos sempre neste circo como palhaços
de um
filme trágico
Fazemos tudo errado, como o uso da tampa
num
sanitário público
E fazemos um carnaval ao subir nas rampas de
um
palácio estático
Escondemo-nos
por entre as bandeiras,
fingindo
ser todo pudico
Sentimos um desespero ao doarmos todo o
nosso
lado romântico
Choramos um desenterro, querendo amar um
morto
de frio ártico
Vivemos uma metamorfose e somos beijados
por um
príncipe anêmico
Atrapalhamo-nos
por ansiarmos os desatinos
de um
desejo ávido
Subimos na ribanceira para mergulharmos
num
lago de lixo tóxico
Cantamos uma melodia desafinada; é a cena
de uma
vida caótica!
Queremos ser o tal e rabiscamos no quadro
uma
fórmula quântica
Não
soubemos explicar e preferimos balbuciar
uma
reza tântrica
E sofremos a alucinação dos cogumelos
de uma
explosão atômica
Atrapalhamo-nos com a timidez, ou com a
inverdade fantástica
E sentimos o desespero quando fazemos tudo
errado,
querendo de tudo fluir
Tropeçamos
a cada passo quando tentamos
dar
tudo certo, sendo que o certo é correr e
fugir
Tropeçando e cambaleando, tentamos das
arapucas
sair
E queremos mesmo é viver tudo, sentir tudo,
antes
mesmo de partir!