Tenho
sentimentos sem resposta,
e ainda assim
ouço.
Na confusão do
tempo,
bebo das fendas da pedra —
silêncio velho,
água suspensa.
O que fui escapa
em brumas,
como sonhos tênues
que se desfazem
no clarão
de um peito que ainda pulsa.
Longe,
uma melodia quase dócil
corta o ar —
e choca-se
com minha voz rouca de ausência.
A saudade late.
Não morde,
mas corrói.
Solto os
grilhões:
pesados, surdos,
ancestrais.
Deixo cair o que era ferro —
e sigo.
Ouço o chamado —
vibração de despedida,
consagração e consolo
num mesmo tom.
Não quero mais a
dor que prende.
Quero o espanto da alegria.
A ternura dos instantes
que não se explicam.
Quero o beijo
que devolve
a inocência do toque,
sem exigir retorno.
Se te tenho por
perto,
todo adeus se desfaz
em sua própria poeira.
Sou feito de
sementes
e inícios.
Meus sentimentos brotam
em terras que ainda tremem.
Sou criança —
não por ser frágil,
mas por crer
sem medir.
Deito-me no
blues da alma:
compasso morno,
melodia suada
e inteira.
Teus braços me
abrigam
como fonte de paz
sem milagre.
Ali,
o indigente que fui
se recolhe.
E o que resta
é só
o que ainda
se acende,
Inocente.