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sábado, 5 de novembro de 2011

No Blues do Silêncio © Copyright


Tenho sentimentos sem resposta,
e ainda assim
ouço.

Na confusão do tempo,
bebo das fendas da pedra —
silêncio velho,
água suspensa.

O que fui escapa em brumas,
como sonhos tênues
que se desfazem
no clarão
de um peito que ainda pulsa.

Longe,

uma melodia quase dócil
corta o ar —
e choca-se
com minha voz rouca de ausência.

A saudade late.
Não morde,
mas corrói.

Solto os grilhões:
pesados, surdos,
ancestrais.
Deixo cair o que era ferro —
e sigo.

Ouço o chamado —
vibração de despedida,
consagração e consolo
num mesmo tom.

Não quero mais a dor que prende.
Quero o espanto da alegria.
A ternura dos instantes
que não se explicam.

Quero o beijo
que devolve
a inocência do toque,
sem exigir retorno.

Se te tenho por perto,
todo adeus se desfaz
em sua própria poeira.

Sou feito de sementes
e inícios.
Meus sentimentos brotam
em terras que ainda tremem.

Sou criança —
não por ser frágil,
mas por crer
sem medir.

Deito-me no blues da alma:
compasso morno,
melodia suada
e inteira.

Teus braços me abrigam
como fonte de paz
sem milagre.

Ali,

o indigente que fui
se recolhe.

E o que resta
é só
o que ainda
se acende,

Inocente.

 

 

 
@Betonicou©