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sábado, 2 de abril de 2011
Saudade © Copyright
domingo, 27 de março de 2011
Tique-taque © Copyright
Tique-taque,
tique-taque. Ouço o som de um
velho relógio. Dia após dia, na parede ou em algum lugar escuro, existe um som:
um velho tique-taque. Ouço o gemido mórbido de um velho relógio. Dia após dia,
mal cadenciado, pulsando num breve pulsar de vida. As engrenagens vão se roçando,
tentando alcançar harmonia... Trabalho lento, letargia... É a triste
lida de um velho e teimoso relógio que, ainda, em um último suspiro de vida,
teima em trabalhar... Teima em servir.
Tique-taque,
tique-taque. No caldo do tempo, me escaldo de instantes, frações apontadas por
ponteiros de relógios que dormem. Do atemporal, carregado de fatos que se
contam no cantar de um cuco. Na solidão do pássaro, resta-lhe a toca, um
casebre feito de molas e trancas. O cuco geme um canto de idas e vindas.
A
solidão tem voz de quem aprisiona num tempo rude e escuro, em madeiras que
cheiram a mofo de eras intermináveis. Nesse caldo, derramado de segundos e
séculos milenares, a canção atormenta, de hora em hora. É a prece à liberdade,
a liberdade que encarcera nos lembretes do tempo. O cuco não canta: planteia
lágrimas de segundos.
No
declínio do tempo, o cuco silencia. Rendam-se as horas, partam-se as correntes,
pois das lágrimas de segundos, da solidão do pranto, encarcera-se as horas. E,
na fuga do instante, nasce o eterno.